08 fevereiro 2018

Seja Carnaval, o seu Carnaval


O Vasco vive o inferno. E quando parecia se ver longe do capeta, ele se apropriou de mais um golpe e um corpo diferente para continuar infernizando o clube.

Mas esse inferno também tem gente boa, aquele povo que fez seu próprio julgamento pra forjar sua descida e continuar ao lado da instituição. E naquele calor, onde há brisa, há paraíso. Então, que haja, vente, sopre.

Era o Madureira chileno? Claro que não, vamos respeitar o Tricolor Suburbano. Era pior. Mas e daí? Pense na competição em disputa, não no adversário. Foi um 6x0 no agregado pela Libertadores, isso que interessa, de fato.

A noite de ontem foi o momento daquela gente boa gritar pra quem quisesse ouvir que ela está ali, pela camisa, pela instituição, pelo primeiro amigo.

Amizade assim desgasta, racha, mas nunca quebra.

Aquela gente boa sabe quem é quem, reconhece o inimigo e consegue separar os bons. Esses, os bons, não precisam se humilhar pra conseguir o perdão.

Celebre a vaga, empolgue-se com o Paulinho, aproveite a volta da casa cheia. Não é pecado, não quer dizer que esteja aceitando o que vem acontecendo fora dali.

Se qualquer luz é sinônimo de alívio, que haja brilho.

Empolgue-se, iluda-se. Nesse momento, especialmente nessa semana, a ilusão é benéfica.

Quem é Eurico? Quem é Campello?

Vamos cantar, meu povão. É gol! A rede vai balançar, ah vai!

É Vasco da Gama, meu bem.

Seja como for, seja onde for, até no inferno. Que haja gente boa, que haja Carnaval.

@_LeoLealC

09 maio 2017

Segue o jogo, a vida, a Chape


Não são os mesmos. Não tem Danilo, Rangel, Kempes, Ananias. Não há mais Caio Júnior, nem aquele time tão arrumado que muito aprontou e nos divertiu enquanto carne e osso.

Tu construías uma história tão linda em 2016, Chapecoense. Independente do resultado daquela final contra os colombianos, seriam tão doces as lembranças, fossem do heroísmo do título ou do esforço resultando num dos vices mais honrosos da história recente.

Você queria, nós queríamos, todos queriam. A vida não quis. E quem somos nós pra contestar desejos e propósitos dela?

É difícil, doloroso, mas a única alternativa que nos resta é aceitar, por mais inadmissível que seja. Segue o jogo, segue ela, a vida. Somos pequenos, minúsculos perante o destino. Somos um mero pedaço de verso registrados em alguma página do interminável livro de orbe.

Nessa mesma proporção, tu, Chape, és gigante perante as adversidades. Já havias provado isso quando de frente aos desafios campais, resumindo-se ao universo do tapete verde. E menos de 6 meses depois de tudo aquilo que passaste, aí estás tu, erguida, imponente, campeã.

Não é o Danilo, é o Arthur. É o Rossi, é o Wellington, o Luís, o Wágner. É a sua camisa, eterna, viva, forte. É a sua história, gradativamente encantadora e acolhedora de simpatia.

Dizer 'Força, Chape' é como pedir gols ao Pelé, cestas ao Jordan, sucesso à Madonna. É o dom de cada um, quando se tem a certeza que verás o que desejou. O seu dom é a força.

A vida continua, você também. Sabe-se lá os motivos para ter aprontado aquilo, mas agora ela quer se desculpar. Sorria, agradeça-a, vista com orgulho essa faixa e chegue a Medellin com mais uma conquista em suas lembranças.

Você permanece campeã, agora bi, dando sequência àquilo alcançado por aqueles anjos. Hoje há baile nos céus, heróis de manto verde e asa branca em festa. 

A aldeia vos nina, a nação vos apadrinha. Condá sorri. Qual seja o plano, há Chape a saudar. 

Qual seja a Chape, há vida a abraçar.

Twitter: @_LeoLealC

21 abril 2017

E se fosse assim?


O regulamento do Campeonato Carioca causou estranheza. De fato, é uma fórmula esdrúxula feita para garantir de qualquer jeito os 4 grandes na semifinal geral. Basta uma campanha normal nas fases classificatórias e dane-se o que aconteça no mata-mata dos turnos. A Taça Rio do Vasco, por exemplo, teve a mesma utilidade que um bolso de pijama.

Mas há um tempo venho pensando num formato diferente que talvez funcionasse no Brasileirão. Estou pra postar isso há um tempo e não fiz por preguiça. E sim, a FERJ fez algo bem semelhante ao que penso para nosso nacional.

Calma, não penso em dividir em grupos, inutilizar turno e returno, criar módulo amarelo, módulo, verde, módulo azul-banana, módulo dourado, nada disso. Mas esse formato do Carioca, com algumas modificações. é o que acho ideal para o Campeonato Brasileiro.

Vamos lá. A ideia inicial é a mesma: campeão do turno, campeão do returno e outros dois de melhor campanha geral. Ponto.

Por que isso é ridículo para o Carioca e bom pro Brasileiro? Porque no estadual os turnos são definidos em mata-mata e no Brasileirão em pontos corridos. Colocar esse formato no Carioca faz com que as decisões de turno nada valham.

Eu sempre fui a favor do Brasileirão em mata-mata, mas não de um jeito que se classifiquem 8 e se matem para definir o campeão. E essa fórmula foi o que achei mais próximo de misturar justiça com emoção, decisão e o jogo do título, de fato.

Campeão do primeiro, campeão do segundo e os outros dois de melhor campanha. Semifinal e final, com vantagem de decidir em casa jogando pelo empate na soma dos confrontos para o time de melhor campanha.

E se um time ganhar os dois turnos? Se garante na final. As outras duas melhores campanhas decidem quem o enfrentará na decisão. O campeão dos dois turnos, por méritos, terá a vantagem do empate na soma dos confrontos e jogará as duas partidas em casa.

Por que também os outros dois de melhor campanha e não só a final entre os campeões de turno? Para fazer justiça. Às vezes o Campeão Brasileiro não é o campeão do turno, nem do returno. Caso do Flu em 2012, campeão disparado, mas o melhor nas primeiras 19 rodadas foi o Galo e nas outras 19 o São Paulo. Naquele ano, por exemplo, teríamos Fluminense x SPFC e Atlético-MG x Grêmio nas semis.

Em 2016, Palmeiras levou os dois turnos. Ele teria a vaga garantida na final. Santos e Flamengo disputariam a outra, com vantagem para o Peixe. O Porco enfrentaria o vencedor deste confronto em dois jogos no Allianz Parque, com vantagem do empate. Título praticamente na mão, mas decidido num mata-mata, o que valoriza estratosfericamente mais a história da conquista.

É uma ideia meio louca, confesso. Pontos corridos são justos, mas não acho que futebol seja só justiça. Tem que ter a decisão, aquele jogo que pare o país, a hora de separar os homens dos menino.

A Taça tem que ser levantada ali, no estádio, ao final do jogo.

E aí, curtiram?

Não?

Então torçam para que eu nunca assuma a CBF.

Twitter: @_LeoLealC 

24 março 2017

Carne nossa


Não estava saborosa como antigamente. Era ruim de mastigar, digerir, aceitar. Estávamos mal acostumados com nosso filé de sempre até que, do nada, nosso produto se torna ultrapassado, menosprezado, escorraçado.

Tinha papelão ali, a todo momento, seja no mercado interno, no Chile ou nos States.

Só que o problema era o frigorífico, não o alimento. Este é delicioso por natureza, dá prazer em preparar, temperar, acompanhar o processo na cozinha até ficar pronto.

Nossa carne é adorada e agraciada mundo afora. Na Espanha, na Inglaterra, na Itália, até na China! Eu sei, lá a concorrência é mais fraca, os caras comem até inseto frito. Mas não temos culpa da excessiva qualidade do que exportamos.

Quando não se inventam ingredientes, quando o frigorífico é aprovado sem precisar de mutreta, quando nenhuma alma se atreve a sabotar o que produzimos, somos invariavelmente melhores. Já não sei se isso é mérito, dedicação ou vocação natural.

Já não sei se a culpa é nossa, mas o topo é. Nele, a gente sorri, encanta, se impõe. Vence, goleia, maltrata. Nele, somos um espetáculo, somos "o", não "um dos". Basta um jantar preparado na nossa cozinha, com um bom cozinheiro, nossos ingredientes, sem papelão ou restos, para que se rendam novamente.

Não é soberba, juro! É reconhecimento de uma obra da Natureza. Por isso somos amados e idolatrados pela maioria do globo. Odiados por poucos, pouquíssimos, geralmente aqueles que só sabem fazer alfajor e não estouram um champanhe há tanto tempo.

Voltamos! Jogamos o lixo fora. O filé está novamente preparado como antes, puro, saboroso, com a nossa essência.

O mais gostoso é saber que só nós degustamos por completo. Em algum momento, este gosto será amargo pra alguém. Sete já experimentaram, relembraram e dormiram estufados e enjoados.

Porque somos admirados, mas também temidos.

Porque nossa alegria, quando sincera e bem aproveitada, causa calafrios.

E com a nossa cozinha cada vez mais arrumada, vai ter muito restaurante fechando as portas.

@_LeoLealC

08 fevereiro 2017

Varzeanos, tucumanos, heróis


Sim, pode ter sido amadorismo, desorganização, bagunça, várzea ou qualquer outro termo que pseudo-especialistas enchem a boca e o caps lock pra cuspir na cara de quem só quer se divertir com o acontecimento.

Também sei que o futebol e a Libertadores não precisam disso para criarem histórias e emocionarem.

Mas ontem foi necessário.

Fosse esta classificação conseguida em ocasiões normais, seria inesquecível apenas para eles, que disputam sua primeira Liberta. Acontecendo após problema no voo, atraso de quase 2 horas, uniforme emprestado e pressão externa boa vontade do adversário para esperar, fica para a história da competição.

Querendo ou não, da forma mais bizarra, tudo que ocorreu nos momentos antes da bola rolar atraiu o interesse de muitos que estavam defecando e caminhando para a partida. Sendo assim, muitos tiveram a sorte de assistir ao vivo um conto que aterriza na eternidade.

(Por sinal, a maior glória conquistada pela camisa da Argentina no século XXI).

As normas, em tudo na vida, são feitas para organizar. As exceções, principalmente no futebol, surgem para criar as lembranças.

A única coisa que a Libertadores faz questão de manter organizada é seu livro de poemas em guerrilha, que a cada ano se aproxima um passo do infinito. E nele, um capítulo especial estava guardado para Quito, em 2017.

Foi escrito pelo caçula, que debutava suas glândulas sudoríparas no torneio mais humano desse planeta. Este, por sua vez, já se intitulando herói, o transformou numa deliciosa epopeia.

O atraso se tornou vaga, o bom moço foi castigado, cruelmente, como adora a autora da obra. A camisa manteve as cores, só mudou o distintivo. A vergonha de um mata-mata decidido por WO preferiu se transformar em um dia para sempre.

O sabor das lágrimas ainda é mais valioso que a pontualidade.

E dessa vez, o gosto foi de milagre.

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