24 março 2017

Carne nossa


Não estava saborosa como antigamente. Era ruim de mastigar, digerir, aceitar. Estávamos mal acostumados com nosso filé de sempre até que, do nada, nosso produto se torna ultrapassado, menosprezado, escorraçado.

Tinha papelão ali, a todo momento, seja no mercado interno, no Chile ou nos States.

Só que o problema era o frigorífico, não o alimento. Este é delicioso por natureza, dá prazer em preparar, temperar, acompanhar o processo na cozinha até ficar pronto.

Nossa carne é adorada e agraciada mundo afora. Na Espanha, na Inglaterra, na Itália, até na China! Eu sei, lá a concorrência é mais fraca, os caras comem até inseto frito. Mas não temos culpa da excessiva qualidade do que exportamos.

Quando não se inventam ingredientes, quando o frigorífico é aprovado sem precisar de mutreta, quando nenhuma alma se atreve a sabotar o que produzimos, somos invariavelmente melhores. Já não sei se isso é mérito, dedicação ou vocação natural.

Já não sei se a culpa é nossa, mas o topo é. Nele, a gente sorri, encanta, se impõe. Vence, goleia, maltrata. Nele, somos um espetáculo, somos "o", não "um dos". Basta um jantar preparado na nossa cozinha, com um bom cozinheiro, nossos ingredientes, sem papelão ou restos, para que se rendam novamente.

Não é soberba, juro! É reconhecimento de uma obra da Natureza. Por isso somos amados e idolatrados pela maioria do globo. Odiados por poucos, pouquíssimos, geralmente aqueles que só sabem fazer alfajor e não estouram um champanhe há tanto tempo.

Voltamos! Jogamos o lixo fora. O filé está novamente preparado como antes, puro, saboroso, com a nossa essência.

O mais gostoso é saber que só nós degustamos por completo. Em algum momento, este gosto será amargo pra alguém. Sete já experimentaram, relembraram e dormiram estufados e enjoados.

Porque somos admirados, mas também temidos.

Porque nossa alegria, quando sincera e bem aproveitada, causa calafrios.

E com a nossa cozinha cada vez mais arrumada, vai ter muito restaurante fechando as portas.

@_LeoLealC

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