07 junho 2016

Fernando


Num debuto carimbado, 
um tanto além fora avistado.
No tanto, o tento,
já planando, dane-se o vento.

O véu balançara no primeiro esplendor,
Na trapaça do titânio, tal qual crescia o vigor.
Bem como expressa o mantra de seu manto, varonil.
Surgia, do voo robusto, o tento número mil.

Tão cedo o casório,
em hora que o amado assustado receava um velório.
Renasce o rubro, de repente, incandescente,
brota-se a conquista do continente.

A posse de uma desejada América, nunca antes conseguida,
apenas oferecida,
porém desguarnecida,
chega depressa, com ele, à beira do Guaíba.

Se veste de branco, 
atravessa o globo inteiro.
Ignora os ibéricos,
 pinta o mundo de vermelho.

Frio, sereno, olhando de cima,
"Não deve ser brasileiro. Não combina".
Raro, ímpar ao nossa prisma,
quando sobra à mente o que carece na ginga.

Entre automóveis, um avião.
Na área, nos ares, não bastava o chão.
"Você se sente um pássaro", colibri,
ao nascer, durante a vida e na hora de partir

Até que o destino presenteia à lá Troia
e o fascínio pelas asas se torna literal.
Agora um anjo, uma joia.
Na Terra, não há mais Grenal

À beira do Rio, o encanto.
No coração vermelho, a gratidão.
Vai-se Fernando,
eterniza-se Fernandão.

@_LeoLealC

28 maio 2016

11


Futebol, eu te odeio!

Você é ridículo, dissimulado. Você ilude, maltrata, deixa acreditar que será um motivo de alegrias, festejos, quando no fim até a felicidade vem acompanhada de lágrimas.

Você cria esperanças, mas transforma um espetáculo circense em um acontecimento trágico de um instante para o outro. Você fantasia a mente de um menor, ele pensa estar se agigantando. Você brinca com um dos sentimentos mais puros existentes desde o Big Bang e sorri maleficamente com os desastres emocionais que causa.

Por que não o Atlético? Por que não presenteá-los? Seu nome nem seria mencionado nesta conquista. Seriam méritos e mais qualquer outro adjetivo que sua chata versão moderna criou.

Por que repetir o filme? Qual a graça dos mesmos rostos sentirem o mesmo sabor lacrimal? O que te faz ser tão repetitivo neste caso específico?

Porque a única característica bondosa que lhe cabe, seu cafajeste, ainda é a fidelidade.

Você prioriza quem escreve sua história desde tempos não transmissíveis. Você renova os capítulos do mesmo personagem, aumentando a saga à medida que ele precisa ser repaginado.

O Real sempre precisará mais que o Atlético. Hoje, amanhã, daqui a 39 lustres.

É quase controverso afirmar isso, mas você, futebol, é justo.

O Sergio Ramos de uma vez, de outra, a trave que influencia o meio e o fim da batalha. Nada disso mostra que você tem um dono, mas escancara sua preferência.

Enquanto o primo pobre sonha com a exceção, você novamente entrega a rotina ao mimado.

Você pode não ser propriedade exclusiva do Real.

Mas um dia como hoje mostra que seu xodó veste branco.

@_LeoLealC

06 maio 2016

Filosofia


Há 3 anos, o perfil do atleticano tem mudado radicalmente.

Não falo da essência, esta eterna e imutável, que se mantém independente do resultado, do momento, do ciclo menstrual ou da fase lunar. Refiro-me às expectativas, ao que se espera do time. Neste período, há motivos além da paixão para se crer.

Depois de um longo tempo no qual a única forma de ter fé era baseada na camisa e nas surpresas que o futebol aponta, enfim existe uma esperança racional. Não é mais loucura, não é algo absurdo, o Galo agora é cotado.

E isso torna o atleticano exigente.

Eu defendo a tese de que eles eram mais tranquilos antes de ganharem a Libertadores. É quase uma lei da vida. Quanto menos você tem, menor é o tamanho das conquistas que te satisfazem. Um trabalhador que rala a semana inteira e ganha pouco está muito mais feliz quando numa mesa de bar, numa sexta-feira, bebe com seus amigos, enquanto um engenheiro rico e bem sucedido não consegue dormir na mesma noite, quando tem um projeto reprovado na empresa.

Se existe um momento no qual a ganância deixa de ser pecado, é por ele que o atleticano está passando.

Quanto mais se tem, mais se quer.

Agora eles têm.

Agora, mais do que nunca, eles querem. Cada vez mais.

Não, não basta mostrar superioridade. Ela tem que ser disfarçada. No sofrimento, no detalhe, no pênalti, na espera até o último apito para se ter alívio. E na enganação que eles fazem a si mesmo, fingindo um medo de que algo possa dar errado.

Mentira. Eles sabem o que vai acontecer, mas fingem uma surpresa, para se criar uma nova história neste novo livro, uma obra-prima repleta de memórias contemporâneas.

Entre posse de bola, bola parada, compactação e qualquer outra expressão pronta para programa esportivo, o Galo tem sua própria filosofia, que é seguida à risca:

Sofrer, estar prestes à tragédia, dar chance ao vento e brincar com o coração daqueles sujeitos apaixonados, chatos e exigentes. Mas no fim, rir da cara daquilo que ele transformou numa simples brisa e dar um sabor exclusivo às lagrimas de outrora.

O atleticano agora é o engenheiro bem-sucedido, que às vezes dorme mal preocupado com certas imperfeições.

Mas a noite de quarta-feira dele, garanto, é melhor que a sua.

Faltam 6 noites. E em cada uma delas, o Galo é cotado.

@_LeoLealC

28 abril 2016

Traiçoeiro



Essa maldita regra do gol fora de casa aumenta a dúvida sobre até que ponto é favorável decidir o confronto dentro ou fora de casa. Pois enquanto decidir em seus domínios parece ótimo de véspera, isto torna-se uma armadilha quando não se faz gol na casa do adversário.

Por isso, Corinthians e Galo precisam tomar cuidado.

Sim, eles têm que se impor e fazer valer o fator casa. Mas nenhum dos dois enfrentará uma baba que abaixará a cabeça facilmente. Nacional e Racing têm tradição no continente e camisa o suficiente para não se apequenarem longe de suas terras.

A classificação dos brasileiros no tempo normal só vem com a vitória. Portanto, vamos com calma nessa análise pré-definida de que o empate fora tenha sido uma maravilha.

Corinthians e Galo têm equipes melhores que os adversários e acredito que os dois passem. Mas, pra isso, precisam ter noção de que além de futebol, atitude e garra, eles também têm que ter cabeça.

Que saibam que há outro time do outro lado e que não caiam na palhaçada do "só perde se for para si mesmo".

Vão pra cima, sim! Desde que a consciência esteja à frente do desespero.

Timão e Atlético ainda são favoritos, como eram antes do início do confronto. E os resultados de ontem não foram ruins para eles.

Nem para Nacional e Racing.

E é isso que torna o jogo da volta perigoso.

@_LeoLealC

01 abril 2016

Uma aula de futebol


Nesta data comemorativa, reservei um tempo para ensinar quesitos básicos sobre o futebol e sua essência, numa tentativa de educar os mais novos perante à bola.

Óbvio que não sou um rapaz consagrado e, caso queiram ouvir opiniões sensatas e coerentes, aconselho a prestarem atenção nos comentários do Casagrande. Mas aqui vou eu.

Meninada, é o seguinte: não precisa ir ao estádio. É exatamente a mesma coisa vista na TV, porém um pouco mais perto. Sem contar o risco de se machucar ao esbarrar em alguém quando está cheio. Não vale a pena, de jeito algum.

Porém, pelo menos aqui no Brasil, eles estão melhores. Principalmente depois que proibiram os sinalizadores e a bebida, claramente os principais responsáveis pelo surgimento dos marginais, mesmo que a maioria das brigas ocorram a quilômetros dali.

Agora, com os preços elevados, as arenas estão bem frequentadas. Gente de requinte, que assiste à peleja sentada, sem subir na cadeira. Pessoas que admiro pelo bom humor e o sorriso para a câmera mesmo quando o time é derrotado.

Respeite a cartilha FIFA, especialmente na parte em que a mesma pede para que você não xingue. Seja educado a este ponto.

Porém, além de todo este crescimento, reitero: é melhor ficar em casa. Nela, você tem TV a cabo e a opção assistir ao futebol europeu, pelo qual vale a pena torcer e amar um de seus clubes.

Tudo, repito, tudo na Europa é melhor. Copie-os ao máximo. Todos são como Real, Barça e Bayern, mudando apenas o escudo. O Villareal, por exemplo, seria dono de uma hegemonia no Brasileirão, sem fazer muito esforço.

O Barcelona, por exemplo, é o maior retrato do que vos conto. Sua história vencedora, sobretudo de 90 pra cá, é baseada na frieza europeia. Romário, Ronaldo, Rivaldo e, principalmente, Ronaldinho Gaúcho, são apenas coincidência. A equipe de hoje, favorita em tudo que disputa, tem na formação espanhola seu sumo. O trio de ataque, formado por sulamericanos, sendo dois deles contratados por valores astronômicos, é consequência. Três homens de sorte, que estão no lugar certo na hora certa.

Sim, o Guardiola revolucionou o futebol. Sua entrevista dizendo que tudo que ele faz é inspirado no Brasil de 82 foi apenas para fazer média com o repórter brasileiro.

A Espanha, seu país, é uma enorme e tradicional seleção. Venceu a melhor das copas vistas em TV a cores jogando um futebol envolvente. Ter sido a campeã com menor número de gols, passando por Portugal e Paraguai com erros de arbitragem, acontece. Sorte de campeão.

O tetra da Itália é legítimo. As duas Copas vencidas baseadas nas ameças de Mussolini apenas reforçam o peso da camisa. O relato do goleiro da Hungria na final de 38, no qual diz que "ao aceitar a derrota, salvou onze vidas", trata-se apenas de choro de perdedor.

Da mesma forma, contestar o primeiro Mundial da Argentina é pura massa de manobra. Não caia nessa alienação. O goleiro do Peru naqueles 6 x 0 não foi comprado, muito menos assumiu isto.

Admire os hermanos, torça pra Argentina e os inveje. Eles têm duas Olímpiadas, torneio sub-23, e nós apenas uma. O que é muito mais valioso do que ter 3 copas a mais.

Confie na Seleção Inglesa. Agora vai! A geração é muito boa. Pode repetir o fantástico time de 66, que venceu honestamente aquela Copa.

Assim que puder, compre uma camisa de Chelsea ou Manchester City, dois gigantes ingleses e mundiais, cuja tradição não se mede. O mafioso russo e o sheik árabe nada têm a ver com a melhora dos resultados das equipes neste século. Chelsea tem Champions League, o que o torna muito maior que o Arsenal, por exemplo.

Sim, o tamanho de um clube é baseado apenas nos títulos. O Botafogo, por exemplo, é minúsculo.

Esqueça a Seleção Brasileira. Ela acabou. A geração é horrível. Temos um time que não aguentaria 20 minutos contra a poderosa Geração Belga, por exemplo.

Não nos classificaremos para a próxima Copa.

Felipão e Luxemburgo? Nem procure saber seus respectivos currículos. Treinadores fracassados, enganadores. Aqueles analisadores de Twitter estavam certos.

Ponha o nome de seu filho de Quaresma, craque consagrado português.

O Robinho é uma enganação, sim. O craque daquela geração do Santos era o Paulo Almeida. Ninguém o pedia no lugar de Ronaldo na Copa de 2006. Sem contar que ele só foi eleito o melhor da Europa em sua posição em 2007 por falta de concorrentes e, principalmente, pelo timaço do Real Madrid que lhe fazia companhia, com Diarra, Guti e Helguera. A Copa América de 2007 só foi nossa por causa de Afonso Alves.

O melhor jogador da história se chama Lionel Messi. Pelé só fazia gols contra pequenos no Paulistão. Decidir duas Copas, duas Libertadores e dois Mundiais de Clubes aconteceu apenas pela sua estrela. A bola sobrava, ele guardava.

O Benzema é craque.

A Copa 2014 foi comprada.

O Corinthians só venceu o Brasileirão 2015 por causa da arbitragem.

O Alex foi injustiçado pelo Felipão em 2002 e deveria ser titular no lugar do inoperante Ronaldinho Gaúcho.

A Seleção de 94 foi amplamente superior à de 82.

O Parreira foi o melhor técnico que tivemos.

E como ele mesmo diz, "o gol é só um detalhe".

Uma boa noite.

E um Feliz Primeiro de Abril.

@_LeoLealC

08 março 2016

Feliz 2016


Num campeonato de extremo baixo nível onde, na primeira fase, 6 dos 8 adversários eram nível Série D para baixo e metade do grupo se classificava, o Fluminense conseguiu o feito de ter uma possibilidade real de eliminação precoce.

Estadual não é parâmetro, ok. Mas perder dois clássicos da forma como aconteceu, terminar atrás do Boavista e correr o risco de ser ultrapassado por Bangu e Cabofriense mostra, no mínimo, que a temporada tricolor ainda não se iniciou. E que, consequentemente, a equipe está atrasada em relação às outras.

Um time com Fred, Cícero, Cavalieri, Wellington Silva, Henrique, Scarpa, Marcos Jr, Diego Souza e Osvaldo, nas mãos de um comandante que saiba o que esteja fazendo, pode brigar até por G4 no Brasileirão. Porém, entregue a um enganador - faço mea-culpa. pois também fui enganado -, passaria mais um ano na lama da mediocridade, dependendo do talento individual para obter surtos de eficiência.

Lembra aquela coisa linda que foi a atuação contra o Cruzeiro? Exceção, como exemplo destes surtos.

Agora chega Levir, alguém de competência comprovada. que não é só uma promessa agraciada por um trabalho em time médio. Para iniciar do zero algo que por pouco não chegou ao negativo e, quem sabe, tornar a eficiência uma rotina.

Não é uma certeza. Se fosse, estaria ali desde janeiro. Mas tem material pra isso.

O Flu não tem time para passar por um início de ano tão constranger. Mas está vivo na Primeira Liga e, aos trancos e barrancos, entra na Taça Guanabara sem qualquer desvantagem em regulamento. Ela existe apenas no trabalho.

A classificação entre os oito do Carioca dependeu de Magno Alves para ser salva. Normal, se estivéssemos em 1999.

Mas se isso acontece em 2016, é porque tem algo de errado.

É melhor mudar, com dois meses, todo um planejamento que claramente daria errado do que mantê-lo passivamente e passar por um ano medíocre.

A pré-temporada tricolor, na verdade, se inicia agora. O que se viu em fevereiro foi uma continuação do sonolento 2015.

E a coletiva de apresentação de Levir Culpi é o Revellión tão esperado.

Aquele que você não tem qualquer certeza de prosperidade, mas pelo menos renova as esperanças.

@_LeoLealC

03 março 2016

Mais uma vez, como nunca. O Corinthians de Tite


Vinte minutos,  primeiro tempo. Giovanni Augusto domina a bola na intermediária de defesa para dar início a um contra-ataque, aproveitando um dos raros momentos em que a defesa do Santa Fé estava exposta. Ele olha para um lado, vira pro outro... Ninguém.

Até que ele para, gira e recua pra Guilherme, que dá em Rodriguinho, que tenta o passe pra Lucca, já com o sistema defensivo adversário recomposto.

Em 2015, essa jogada aconteceria com Elias, Jádson, Renato Augusto e Malcom. E, provavelmente, não haveria como os colombianos voltarem a tempo. Só que hoje, um está machucado até Deus sabe quando e os outros três não vestem mais a mesma camisa.

O Corinthians se fragilizou em peças, bastante. E é isso que valoriza ainda mais a importantíssima vitória desta quarta. Apesar da insuficiência plástica destes 90 minutos e da obrigação de se vencer em casa numa Libertadores, bater o campeão da Sulamericana sendo, apesar de tudo, superior, é algo a se celebrar.

Agora são 6 pontos que dão a tranquilidade necessária para que a equipe não transforme o jogo contra o Cerro em uma decisão. Sabemos como é jogar fora de casa em Libertadores, portanto, entendemos que perder como visitante, principalmente para um adversário tradicional, acontece.

Pode acontecer. Mas com essa gordura adquirida e os 5 pontos de vantagem pro terceiro colocado, a hipotética derrota seria apenas um tropeço, não uma tragédia.

Sou um fã assumido desse tal de Adenor e considero-o como o principal responsável por essa década gloriosa do Timão. Sua capacidade em extrair o melhor do que tem nas mãos deu um Mundial, uma Libertadores, dois Brasileiros e uma Recopa ao clube em 5 anos.

Claro, Tite possuía elencos melhores do que tem agora. Mas quando perdeu meio time no início do Brasileirão passado, difícil era encontrar previsão até de G4 para sua equipe. De um esboço de pedra, ele fez uma mina de ouro e sobrou no campeonato.

O time de hoje, embora não seja ruim, não tem material humano para se garantir, só pelos nomes, favorito no que disputar. Mas na mão de Tite, se torna candidato.

E dele, aprendi a não duvidar.

Mais do que 2011, 2012 e 2015, o Corinthians depende de seu técnico.

Se ele fará milagre, não se sabe. Mas que este time será bastante competitivo, tenho certeza.

E dentro do cenário oferecido, o início do Timão na Libertadores foi perfeito.

@_LeoLealC

Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians

29 janeiro 2016

O cara


Desde meus 4, 5 anos de idade, sou fissurado por futebol e suas histórias. Eu adorava passar horas ouvindo contos meu avô, meus tios e vizinhos sobre tantos gênios que não tive a chance de ver ao vivo. Topava numa boa tomar um guaraná no botequim, enquanto os coroas enchiam a cara e relembravam como um Bonsucesso x Madureira de 1973 foi emocionante.

Eu via os velhos encantados ao falarem de Pelé, Garrincha, Zico, Dinamite, Gérson, Sócrates, Tostão e sentia uma certa inveja. Pensava se um dia poderia dizer "eu vi", em vez de "ouvi falar", sobre alguém deste cacife.

Enquanto isso, um camisa 11 era capa do jornal toda segunda-feira, abusando da criatividade do coitado do editor, que toda semana tinha que pensar em uma manchete nova sobre um mesmo cidadão.

Sempre o homem da partida, o rei da área, o artilheiro do campeonato. Sempre atormentando zagueiros, amedrontando rivais, admirando quem ama futebol.

Sempre Romário.

Eu via um monstro brilhar na minha TV. Ao vivo. E não tinha noção disso.

Normal, para uma criança acostumada a ouvir lendas saudosas da boca de quem havia vivido o baile de debutante da Dercy.

E hoje, mesmo 20 anos de idade, entendo o lado deles. Por mais completo que seja qualquer centroavante que surgir, meu recém-saudosismo me impedirá de vê-lo em um patamar à frente do Baixinho.

Porque qualquer chance clara perdida me fará lembrar daquele cara que vestia a camisa do meu time quando descobri o que era futebol e, anos depois, me assustava vestindo a do rival.

- Esse gol aí, o Romário de Souza Faria.

Tá, ok. Desculpa. Não irá se repetir, prometo.

Existem centroavantes completos. Existem jogadores completos. Existe Romário.

O príncipe da côrte, o homem que não precisava treinar para chegar em campo e mostrar o que sabia.

O cara que, no Barcelona da disciplina e dos bons costumes, fez dois gols e pediu pra sair no primeiro tempo, para não perder o voo e nem o Carnaval carioca.

Reza a lenda. E se tratando de Romário, acreditar faz bem.

Tudo que ouvi falar dos maestros do Canal 100, meu neto ouvirá sobre um indivíduo de 1,67 que brincava com o significado da palavra Gigante.

Aquele que é respeitado mundialmente sem precisar ter feito 80% da carreira na Europa. Aquele que atravessou o Oceano para, praticamente sozinho, nos dar uma Copa.

Há 50 anos, Papai do Céu apontou para um menino.

E depois de 1002 motivos, não contestamos sua razão.

Esse é o cara.

@_LeoLealC

07 janeiro 2016

Abduzido com consentimento


Perdemos mais um. Novamente, o craque do Brasileirão foi sugado pelo buraco negro bilionário do futebol - assumo não ter conhecimento sequer da alcunha do clube shing ling -, dando adeus à Seleção, à visibilidade e à exigência de um nível tão alto nas próprias atuações.

Confesso que já cheguei a achar um absurdo o fato do jogador, no auge de sua forma física e técnica, abandonar seu clube, ou até uma chance de despontar numa grande liga da Europa, em troca de um maior ganho financeiro. Mas aí vi a entrevista de despedida do Renato Augusto e entendi o lado do cidadão.

É claro que é ruim para o campeonato brasileiro, péssimo para o Corinthians e incômodo até para a Seleção, que perde uma opção no seu ainda indefinido meio-campo. Mas não é esse o ponto. É algo que não se resume apenas ao futebol.

São muitas coisas que passam pela cabeça do cara. Estabilidade, família, garantias e mais inúmeros fatores. E é muito fácil pra nós, do lado de cá, analisarmos baseando-se apenas no que seria melhor esportivamente pra ele.

Ele também tem um histórico de lesões, o que causa uma preocupação. E ninguém sabe o dia de amanhã.

Eu sinceramente não faço ideia sobre qual seria minha decisão ao estar na pele dele, mas sei muito bem que ver tal amontoado de grana na minha frente me balançaria.

Some os três anos de contrato e você terá apenas uma Mega-Sena acumulada. Por mais que sua vida financeira vá bem, não há como fechar os olhos para a proposta, que sim, muda a vida.

Renato Augusto é um homem rico. Agora, será multimilionário e garantirá com sobras sua independência financeira até morrer. Assim, sua decisão é, no mínimo, compreensível.

Não acho burrice porque tenho certeza que, antes de bater o martelo, ele pôs todos os fatores na balança. Portanto, sabe o que está fazendo.

Burrice seria ir pra China achando que manteria o nível e continuaria sendo chamando pra Seleção como se estivesse brilhando no Campeonato Espanhol.

Mas a partir do momento em que ele sabe das consequências e tem consciência do que está abrindo mão, torna-se uma escolha sensata. E essa, temos que respeitar.

Nós perdemos. Mas ele tem o direito de escolher o que considera melhor pra si.

Há prós e contras. E na balança do Renato, os prós venceram.

Valeu, Renato Augusto. Seu auge foi bom, e muito bom, enquanto durou. Fará falta ao Timão e ao nosso campeonato.

Boa viagem! E não se esqueça de levar feijão.

@_LeoLealC

Foto: Gazeta Press