27 julho 2014

Sobrando, ontem e hoje. Cheio de vaidade


Muitos procuram o sentido do trecho no hino que diz "eu vivo cheio de vaidade". A princípio, realmente parece difícil encontrá-lo.

Conheça um cruzeirense e isto se tornará mais fácil. Conheça o Cruzeiro e entenderá de vez.

Cruzeiro, você é irritante.

Por que nunca se divertes complicando um jogo fácil e tendo uma vitória sofrida? Por que, sempre que se encontra superior, fazes questão de expor este predomínio a quem quiser ver?

Você, líder disparado, recebia hoje o fraco Figueirense, em casa. E por mais que ninguém apostasse no Figueira, todos sempre têm uma esperança numa zebra que possa animar o campeonato.

Você, mais uma vez, riu de nós. Mais uma vez, fez o esperado. Você sempre faz o esperado, e isso irrita!

Se os primeiros 45 minutos desenhavam uma vitória injusta pelo pênalti polêmico, você, vaidoso, voltou do vestiário jogando muita bola, fez mais 4, esbanjou sua superioridade e tornou crime a ação de usar o pênalti para contestar sua vitória.

Se fosse 1 x 0 com um gol aos 48, seu torcedor reclamaria. E a culpa é sua, Cruzeiro! Você o acostumou assim.

Por isso, se vê obrigado a não sair dessa mesmice de sempre atropelar.

Olhar pra baixo para ver os outros não convence. Tem que precisar de um binóculo.

Você, Raposa, sobrou tanto ano passado que já acumulou pontos para começar esse na liderança.

Enquanto os outros 19 disputam o campeonato, você o ganha. E ri deles.

É cedo? Dane-se! Eu estou bancando que o Cruzeiro já é o campeão. Podem me cobrar!

Só não precisa dar a volta na tabela e passar meu Flamengo, beleza?

O cruzeirense acordou e olhou triste para o céu, pois não via sua camisa. O tempo nublado não deixava.

Então o anoitecer o fez olhar para o Mineirão e assim se satisfazer.

Pois ele viu sua camisa, seu Cruzeiro, a vaidade e o esperado.

E dessa deliciosa rotina, ele não enjoa.

@_LeoLealC

Foto: Gualter Naves/Light Press

24 julho 2014

A crista da lembrança


Eles poderiam decidir tudo na Argentina e vir pro Mineirão apenas pra levantarem a taça. Foram muito melhores lá, estava tudo na mão.

Não aproveitaram, ou não quiseram, sei lá. Então mantiveram a vantagem mínima e voltaram pra Minas "apenas" favoritos.

E quando a festa do gol no início, sendo o centésimo de um ídolo, parecia encaminhar tudo para um fim tranquilo e ameno, eles conseguiram novamente complicar.

É impressionante como gostam de tudo sofrido. Dessa vez, até resolveram dar ao rival o sabor daquilo que tanto degustaram vezes outras.

Bola no abafa, lance chorado, gol! No último lance!

Não, dessa vez não foi o Galo.

Calma, argentino! Ainda tem jogo.

Tem mais 30 minutos. Tem mais dois gols. Tem mais um título internacional de quem "não ganha nada".

Tem mais uma final que você perde pra eles. Tem, agora, sua alcunha de freguês.

O que não tem mais é a imperfeição do intervalo de 364 dias depois de ouvir o apito inicial do jogo mais importante da história deles.

Ela seria desagradável, inconveniente e menos um detalhe tão rico neste capítulo.

Precisava bater meia-noite no relógio.

Bateu? Já é "amanhã"? Agora sim. Hora de brincar.

E se o Ayala pediu pra participar da festa, que seja bem-vindo! Só não repara a bagunça.

Hoje veio a Recopa, que não existia na sala de troféus. Há um ano, vinha a Libertadores, também inédita.

Em agosto tem o que mesmo?

Ah, a Copa do Brasil, que por sinal, eles também não têm.

Sei lá, só pra avisar.

Há exato um ano, eles viviam uma guerra.

Hoje, se divertiram. Com tudo que precisavam para lembrar do que sentia aquele Mineirão 12 meses atrás.

A guerra, eles venceram. A festa, eles curtiram.

E pra quem anda tão mal-acostumado ultimamente, esperar mais de 365 dias pra levantar uma taça está fora de cogitação.

Salve o Clube Atlético Mineiro.

Salve o campeão.

Feliz 24 de julho.

@_LeoLealC

18 julho 2014

Há diferença

Sim, o Flu era favorito. Se portou como um, aliás. Um meio-campo diferente, muito ofensivo, um time para ir pra cima de uma equipe inferior e buscar a liderança.

Óbvio que, quando nem um possível empate seria considerado bom resultado, a derrota dói. Perder para o Criciúma, mesmo fora de casa, nunca será considerado normal para quem quer disputar o título.

Mas existem casos e casos. Com o cenário que se desenhava, o Fluminense sairia dali baleado, mas 3 minutos transformaram uma sapatada em um comum acidente de percurso.

O 3x0 seria uma tragédia e poderia abalar o time. O 3x2 converteu o desastre em apenas uma derrota que surgiu de um pênalti mal marcado.

Então o Tricolor vai pro jogo de domingo sabendo que, quarta, fez o possível, foi prejudicado e simplesmente não era o dia das coisas darem certo.

O que é muito melhor do que ir sabendo que foi atropelado.

Perder pro Criciúma não é normal, mas acontece. Ainda mais sem ritmo, depois de um mês de paralisação.

Já ser goleado pelo Tigre é inaceitável. E disso, o Flu se livrou.

Não muda nada além de 2 gols a mais de saldo.

Mas diminui, em muito, o prejuízo mental que se encaminhava às Laranjeiras.

@_LeoLealC

Foto: Nelson Perez

17 julho 2014

A Copa e seus efeitos


Tivemos um mês para acompanhar e aprender a nova lição do futebol. Vimos de perto e sentimos na pele que o conjunto, a compactação e o jogo simples, hoje, predominam. Ao mesmo tempo, os clubes tiveram mais de 30 dias de treinos para não reclamarem de pouca pré-temporada e poderem consertar os problemas de suas equipes.

Não tenho o mapa de calor do jogo, mas creio que, na parte do Flamengo, o desenho do campo entre as duas intermediárias está pintado de verde. Como em todo primeiro semestre, não há meio-campo, ninguém pra pensar com a bola e continuam os bicos da zaga pro ataque.

O Fla mudou quase tudo no papel. No campo, não se viu nada além de um posicionamento defensivo diferente. E pelos primeiros 90 minutos após a promessa de melhoras, foi difícil enxergar algum acerto.

Restava apelar pro chutão e "vamos ver no que dá".

Não deu.

O gol saiu de um escanteio que se originou de um lance de sorte, num erro adversário. A maior esperança lúcida da equipe se dava quando o lateral saía de sua posição pra pensar o jogo no meio.

Com a bola, um time lento e previsível. Sem ela, uma marcação fraca e um pote de espaços pro ataque adversário.

O Atlético é apenas um bom time, nada excepcional. Mas é muito bem treinado, compacto e faz o simples.

Fora de casa, soube perfeitamente jogar em cima do erro do Fla.

E contra o Flamengo de hoje, jogar no erro do adversário é, simplesmente, jogar.

Sem ser ameaçado e estando mais perto de ampliar o placar do que sofrer o empate, o Furacão controlou o rubro-negro carioca com uma facilidade que assusta.

Não por uma má atuação do Flamengo depois de um mês de paralisação, mas pelo torcedor que olha o time em campo e não vê ali uma expectativa de mudança em médio prazo.

Porque um time que melhora com as entradas de Luiz Antônio e Nixon se mostra preocupante.

Percebi no Atlético-PR uma equipe que, além de treinar, estudou futebol nesse último mês. Taticamente, vi pelo menos um Estados Unidos no time de Doriva.

No Fla, vi a Seleção Brasileira.

A de semana passada.

A Copa do Mundo nos ensinou, e o Atlético quer aprender.

O Flamengo não concordou, respondeu arrogantemente à professora e ganhou uma bronca.

Se continuar, será expulso de sala.

@_LeoLealC

Foto: Site oficial do Atlético-PR/Gustavo Oliveira

14 julho 2014

Campeã do mundo. A nossa campeã


E quem diria que aquele país gelado, de um povo tão frio e um futebol até então burocrático e calculista fosse nos cativar tanto?

As ações sociais na Bahia, a vitoriosa estratégia de marketing com a camisa rubro-negra, a quase naturalização brasileira de Podolski, a simpatia com o povo e, enfim, a nova forma de entender futebol. A Alemanha nos ganhou, e não estou me referindo só ao sinônimo de "vencer".

Não vivi a época, mas já ouvi dizer que o Brasil fez algo bem parecido no México, em 70. Porém, há diferenças, pois a única função dos mexicanos naquele Mundial era ser o país sede e ver a bola rolar. Não dava para imaginar os anfitriões levando aquela Taça.

Aqui, não. Entramos para vencer, assim como os alemães. Não queríamos aplaudir ninguém, e sim gritar "hexa!".

Aí eles, que vieram para ser nossos rivais, sentem-se em Berlim, enfiam 7x1 em nossas almas e mesmo assim voltam pra casa aplaudidos, adorados e nos arrancando sorrisos.

Se faltava alguma coisa para chamarmos essa seleção de "nossa", enfrentar a Argentina fez este favor.

E mesmo depois de vermos a maior tragédia de nossa história em copas, nos demos o direito de comemorar um título gritando "tetra!".

Pois eles com certeza vão aceitar dividir esta alegria conosco. Até dedicam, em parte, a nós.

Se formos realmente arrumar a casa em nosso futebol, já temos um espelho. Ele veste branco, às vezes até vermelho e preto. Nós, intrometidos e encantados, tratamos de borrar um verde e amarelo sobre seu pano.

Pioneira. A única europeia a levar uma Copa nas Américas. A primeira a nos ganhar de 7 e colocar-nos na condição de aprendizes, não professores.

Ninguém mereceu mais. Ninguém jogou mais.

Ninguém nos respeitou tanto.

É com muito prazer e bastante orgulho que lhe entregamos a Taça, Alemanha.

Porque agora o mundo é seu, mas você também conquistou o Brasil.

Muito obrigado, campeã. Volte sempre.

De preferência, no outro lado da chave.

@_LeoLealC

09 julho 2014

Ufa! Acordei...


Em pânico, acabo de acordar no meio desta árdua madrugada e venho aqui contar a vocês do horripilante sonho que acabei de ter.

Não sei se foi culpa da insônia que toda véspera de decisão ordena a me incomodar. Mas quando enfim consegui dormir, algo terrível veio assombrar meu sono.

O pesadelo começava num escanteio qualquer. Bola na área e nosso adorável David esquecia o sujeito alemão livre. Saíamos atrás no placar.

Minutos depois, até o recorde de nosso Fenômeno ia pro espaço. Mais uma vez, os alemães achavam nosso barbante, sem qualquer dificuldade.

Dali em frente, um Mineirão em choque acompanhava um bombardeio inimigo.

Alguns se recusavam a crer e, com apenas 1/4 do jogo corrido, iam em direção à saída do estádio. Pareciam ter a esperança de voltar e ver que tudo não passava de uma ilusão e que a partida ainda estava para ter seu início.

Olhares incrédulos, curiosos. Aquilo realmente estava acontecendo?

Via-se a exceção num pequeno menino, que parecia ter noção do que ali ocorria e caía em lágrimas, quando já havíamos sofrido quatro. Vendo a imagem, eu quase chorava junto. 

Éramos jogados como sacos de lixo na amargura da inferioridade. E isso nos doía de forma agoniante.

Belo Horizonte, terra do capítulo mais lindo da história até então escrita, era o lugar escolhido para o maior vexame de nossa existência.

Em nossa casa, éramos humilhados. 

Um apagão, uma aula tática, um massacre técnico e objetivo que nos tornava vítimas de um holocausto sobre chão verde.

E diante de um sentimento de tristeza e desgosto, procurando uma forma de enxergar o inaceitável, eu deitava em meu quintal olhando para o céu.

Ali, então, acordei.

Tudo parecia muito real. E cá estou, assustado com o tormento que acabo de ter neste sonho.

Ufa! Era só um pesadelo.

Agora volto a dormir, ansioso, pois amanhã tem Brasil na Copa.

E mesmo sem nosso craque e nosso capitão, eu acredito!

Pra cima da Alemanha!

#Faltam2

@_LeoLealC

08 julho 2014

"Mete o pé e vai na fé!"


Foi difícil pensar em algo que fugisse do óbvio para falar da perda do nosso craque. Talvez por ainda não aceitar, talvez por saber o tamanho da perda e, ao mesmo tempo, não ter noção do quanto isso fará mal pra equipe.

Não liguei muito para o lance da contusão na hora do jogo. Mesmo vendo a dor do menino, não sei ao certo se imaginei que não era algo tão grave, ou se me recusei a acreditar que ele estava abandonando nossa equipe logo neste momento.

Eu nem estava prestando atenção na TV depois do jogo, até ouvir a voz do Mauro Naves dizendo pro Fred: "Neymar fraturou a vértebra e está fora da Copa". Na hora, reagi como se tivéssemos sido eliminados. Soquei a parede, desejei ao Zuñiga 10 minutos na frente de Vitor Belfort, xinguei até o primeiro ancestral da família do cidadão.

Fui andar na rua e então entendi o que Neymar representa para nós. Pessoas com camisas da Seleção, mas nenhum sorriso pela vitória. Todos assustados, quietos, tensos, como se algo grave tivesse acontecido em suas vidas, ou, no mínimo, tivéssemos perdido o jogo, a Copa, nosso futebol e a esperança.

Marcelo Del Pozo/ Reuters
Perdemos nosso menino. E isso é duro de aceitar.

Nunca me atreverei a acompanhar seu nome com a palavra "só", mas ainda temos com a gente, além de um grande elenco, o poder da camisa mais pesada do futebol mundial.

Estamos a dois passos de transformar toda essa tensão em êxtase, alívio. Sem nosso craque, eles são mais longos.

E daí?

É a hora do grupo jogar por ele, sabendo viver sem ele. E que a vitória sobre os colombianos, quando a equipe teve sua melhor atuação mesmo sem Neymar estar em um bom dia, sirva como uma injeção de confiança. Nós podemos, sim.

Precisamos dele, mas não dependemos exclusivamente do garoto.

"Às vezes, a felicidade demora a chegar. Aí é que a gente não pode deixar de sonhar.".

Sem Neymar, é complicado. Mas sem acreditar, é impossível.

Eu acredito, ele acredita e os 60 mil no Mineirão têm que confiar.

"Ninguém vai poder atrasar quem nasceu pra vencer".

Nem o Zuñiga.

Neymar não está mais na Copa. Mas quem disse que ela não pode ser dele?

Dele, dos outros 22, nossa.

"Ergue essa cabeça, mete o pé e vai na fé!".

Avante, Brasil. Falta pouco.

E nem a Alemanha vai nos segurar!

@_LeoLealC

02 julho 2014

Não, não foi o Papa


Pobre do senhor Francisco.

Além de ter sofrido a dor de nascer argentino, ainda tem seu nome atrelado à sorte que vem acompanhando sua seleção em nossa terra.

Não acredito que Vossa Santidade seria tão maldoso para pedir tanta angústia e, mais ainda, com 30 minutos acrescidos para seus homens.

Nem que esqueceria de apelar intervenções divinas que pudessem ser capazes pelo menos de passar alguma segurança para aquela defesa tão aflita.

Se o Papa realmente quisesse mediar alguma comunicação egrégia que garantisse o triunfo de sua nação, pediria que, ao menos, viesse com uma certa tranquilidade.

Não teria aquele rapaz pouco capacitado para finalizar na cara do gol argentino, no primeiro tempo. Não haveria o chato do frio goleiro para atrapalhar e atrasar a missão hermana. Muito menos aquele indivíduo na pequena área, no último minuto, para carimbar o poste.

Ainda disseram que a trave estava coberta com o traje do Santíssimo padre.

Quanta maldade com simpático Chico. Quanta injustiça.

Pois se ele tentou fazer alguma coisa, creio que não chegou ao seu objetivo.

E se houve alguma obra extraordinária naqueles últimos 5 minutos, a culpa é do Coisa Ruim.

@_LeoLealC

Foto: Fernando Pereira/ PMSP