29 janeiro 2014

Guerra

O adversário é fraco, perdeu uma dezena de jogadores e está com salários atrasados. O Bota, mesmo ainda sendo uma incógnita, tendo perdido dois de seus principais, é indiscutivelmente melhor. 

Mas não serão só 11 contra 11. Há muita coisa além disso, e não estou falando da altitude.

Eles, que carregam fielmente essa Estrela Solitária, sofreram. Muitos anos no quase, tantas vezes batendo na trave. Faltava algo.

Ele veio. Primeiro, um louco, do Uruguai... quase. Depois, da Itália. Da Holanda, do Suriname.

Aí então, o Fogão chegou.

Ops... ainda não, tá quase.

O Botafogo não vai jogar só duas partidas em busca de uma vaga. Estarão em jogo a honra, o alívio e o sossego dessa gente.

Quem não é do Rio, talvez não entenda. Mas no começo de todo ano, o botafoguense não pedia, primeiramente, um título. 

Lógico, qualquer conquista é bem-vinda. Mas só eles sabem o que é começar todo ano pensando: "Temos que chegar na Libertadores, desse ano não pode passar."

Agora, o Glorioso está praticamente lá. Está no portão, chamando e tocando incessantemente a campainha. E a ansiedade para que ela atenda e chame para entrar é enorme.

Num Campeonato Carioca, o Fogão passaria o carro facilmente nesse Deportivo Quito. Mas hoje, não é só bola rolando. É coração, trava de chuteira e camisa. 

E que esta volte a pesar!

O alvinegro está ansioso, nervoso, porque sabe que a hora é agora, e como eles tanto clamam, "dessa vez não pode passar".

Relaxem, não vai passar.

Hoje é dia de lutar, e também jogar futebol.

Hoje é guerra, Fogão!

É dia de glória.

É dia do Glorioso.

@_LeoLealC

23 janeiro 2014

Aconteceu em 2013: O Vasco, o Maracanã e o casamento


Era dia 24 de outubro de 2013. O Vasco, que brigava para não cair no Brasileirão, enfrentaria o Goiás, pelo segundo jogo das quartas-de-final da Copa do Brasil. E no começo daquela noite de quinta-feira, um casal partiu em direção ao Maracanã.

Marcela é vascaína, daquelas que, como diz a música, levam a cruz de malta no corpo desde que nasceu. Já Gustavo é flamenguista fanático, ferrenho e alucinado. O rapaz, na melhor das intenções, levou sua amada ao jogo para agradá-la.

Ele foi em praticamente todos os jogos de seu time no ano e estava lá no dia anterior. Saiu dali em êxtase, feliz demais com seu Flamengo, que eliminou o Botafogo aplicando um sonoro 4 x 0.

Ela nunca havia visto seu time de perto. Nunca pisou em São Januário e só tinha ido ao Maraca três vezes, todas elas em jogos do Fla, arrastada pelo namorado.

Ele é apaixonado pelo rubro-negro, mas nunca teve problemas em assumir que a torcida vascaína também é uma das mais incríveis do país. Sua paixão pelo Templo Sagrado do futebol também é enorme e, se dependesse do rapaz, ele estaria lá em todos os jogos, mesmo que não fossem de seu time. Por isso, não viu problemas em ficar no meio dos vascaínos com sua namorada.

Ela sempre foi vascaína, mas antes, era uma torcedora que não ligava tanto. Até que conheceu Gustavo, fanático, que vive e respira futebol, e a levou para este fascinante caminho.

Faltava à Marcela a certeza de que este amor pelo Gigante da Colina era realmente tão intenso quanto ela expressava. Para isso, precisava ver seu time no estádio. O que ela sentisse, ali, daria a resposta.

O Vasco tinha perdido, em Goiânia, por 2 x 1. Então, no Maraca, uma vitória simples bastava. Porém, caso houvesse gol do Goiás, a vantagem de 1 gol já não seria suficiente.

Eles chegaram atrasados e perderam o primeiro gol do jogo. Quando enfim conseguiram entrar, o placar já apontava 1 x 0 para o Gigante. Mal acharam seus lugares e Thales soltou um balaço pra fazer 2 x 0. Ia tudo conforme o desejado, como o vascaíno mais otimista esperava.

Mas aí Wálter, o gordinho, acertou um passe milimétrico e Hugo mandou pra rede, diminuindo pra 2 x 1 e mandando então o confronto para os pênaltis.

Silêncio.

A ficha demorou a cair, mas quando caiu, os vascaínos perceberam que o que estava perfeitamente encaminhado para a classificação, em um lance, virou igualdade. Aí passaram a temer pelo pior.

E o pior aconteceu.

Veio o segundo tempo, e num lance de sorte, Amaral contou com um desvio no meio do caminho e empatou a partida. Resultado de 2 x 2, que levava o Goiás às semis. Naquele momento, pelos gols fora, o 3 x 2 já não servia ao Vasco da Gama. Eram necessários mais dois gols, não só um.

E depois de muito tempo pressionando, o baixinho Willie foi à área e mandou de cabeça pro fundo da rede, dando esperanças àqueles 36 mil presentes: 3 x 2.

Faltavam ainda uns 15 minutos e o Cruzmaltino precisava de um gol. Marcela, a mais nova fanática, tremia e chorava de nervosismo. Gustavo, o namorado flamenguista, tentava consolar a menina e admirava o belo jogo que acontecia diante de seus olhos.

Ele não dava uma de falso dizendo que estava torcendo pro Vasco, mas também não secava, porque por superstição, não gostava de escolher adversário, já que o classificado dali enfrentaria seu amado Flamengo na semifinal.

Depois de tantos chuveirinhos pra área, o Vasco, que tinha Juninho em campo, conseguiu uma falta na meia lua da grande área, aos 45 do segundo tempo. Era o momento do jogo. Se Juninho acertasse o pé, como de costume, o Vascão iria para as semis. Se errasse, já era.

Por ser Juninho na bola, os vascaínos ficaram com os olhos brilhando, sabendo que a chance era enorme e que eles estavam perto de conseguir o objetivo.

Até que o juiz autorizou a cobrança, o Maracanã ficou em silêncio e o lance pareceu passar em câmera lenta.

Marlone, Willie, Juninho... pra fora.

E depois de alguns minutos de acréscimo, a partida chegou ao fim, assim como a participação do time de Marcela naquela Copa do Brasil.

Todos aplaudiram o esforço da equipe, mas saíram dali tristes, pois não haviam conseguido. Ela estava com os olhos molhados de lágrimas, mas por também reconhecer o esforço, sorriu.

Sorriu também por saber que a partir daquele momento, o futebol faria parte de sua vida. Mas o principal motivo do sorriso era a certeza: "Eu amo o Vasco da Gama".

Gustavo, então, saiu feliz. Não pela eliminação do Vasco, pois sabia que o Goiás também seria um adversário dificílimo pro seu time, mas pela realização de um sonho: sua namorada se tornava, assim como ele, fanática por futebol.

A partir daquele dia, Marcela vibra ou chora com todos os jogos do Gigante da Colina. Em muitos deles, chama o namorado pra ver junto. Ele, apaixonado pelo Maraca, se ofereceu e ainda a levou em mais dois jogos da equipe no Brasileirão.

Hoje, ver futebol é um dos programas preferidos pro casal. Eles já foram mais ao estádio do que ao cinema, por exemplo.

O Vasco não passou pelo Goiás e foi eliminado da Copa do Brasil.

No fim da temporada, ainda foi rebaixado para a Série B.

Isso passa, já já ele estará de volta.

Mas ganhou Marcela, o coração da menina e a certeza de um novo caso de amor.

E isso fica pra sempre.

@_LeoLealC

20 janeiro 2014

"Me respeitem!"

Caro Flamengo,

Tu sabes que meu carinho em relação a você é enorme, até maior que eu. Foi com todo prazer que lhe dei tantos títulos em meu gramado e ajudei a emocionar seus devotos aqui presentes. Creio que não tenhas noção do quanto gosto de fazer parte de suas histórias.

Também lhe peço desculpas pelo tempo que precisei operar e estive inativo. Você foi muito prejudicado com isso, eu sei, mas não foi culpa minha. De qualquer forma, perdão.

Tive medo de que você não se acostumasse a meu novo estilo, ou que esquecesse de nossa sintonia. Mas aí tu já trataste de fazer a festa do jeito que ficamos acostumados, na raça, na superação, fazendo minha arquibancada balançar. Fiquei, então, aliviado.

Opa, desculpa, não são mais arquibancadas, e sim cadeiras. Também lhe peço perdão por isso, e como já disse, a culpa não foi minha.

Mas nesta tarde ensolarada de domingo, acho que você exagerou.

Quero que entendas que tu sempre serás bem-vindo e quando quiser, nem precisa pedir, você pode caminhar sobre meu tapete. Mas não abuse, e seja, ao menos, educado.

Não estou reclamando de ser pisado por Welinton, Digão, Val, Negueba, Nixon e pelo primeiro sujeito que conseguiu, tamanha incompetência, fazer os devotos rubro-negros clamarem por Carlos Eduardo. Mas precisa tudo isso acontecer à toa? E contra um time itinerante? Com ingresso a 40 pratas para me afastar do meu querido povão?

Não podias tu escolher jogar em qualquer outro lugar um jogo tão inútil? E já que foi aqui, por que não colocaste ingresso a 10 reais e permitisse que minha galera querida me visitasse?

Por tudo que já fiz, não mereço um boicote. E você, Flamengo, dessa forma acaba dando um enorme incentivo para que isso aconteça.

Fico bastante triste, e saiba que isto não é implicância. Faço questão de enviar uma carta parecida para cada um de seus irmãos, principalmente o playboy, que na próxima quinta-feira me brindará com o deprimente confronto contra o Bonsucesso.

Eu não nasci pra peladas, muito menos peladas de elite. Não fui criado para ser visitado apenas por quem pode pagar. Minha prioridade são os que querem e não podem, os verdadeiros torcedores.

Passarei esta semana de mal contigo, Mengão. Sua sorte é que não consigo ficar assim por muito tempo. 

Portanto, até o dia 12, já terei lhe perdoado.

Tenho um enorme sentimento de gratidão quanto à sua instituição, então peço que também seja grato a mim, que reconheça tudo que já fiz.

Pois acima de tudo, eu mereço respeito.

Abraços e saudações.

Ass.: Estádio Jornalista Mário Filho, vulgo Maracanã.

@_LeoLealC

16 janeiro 2014

Valeu, Sidão!

Conheci seu futebol na final da Champions League 2002/2003, quando o Milan venceu a Juve nos pênaltis.

Eu tinha 8 anos recém-completados e nunca tinha ouvido falar de você, Seedorf. Já tinha visto vários jogos de seu compatriota Davids, que estava do outro lado naquela decisão, mas não sabia da existência de Clarence Seedorf.

Aí o jogo foi para as penalidades e você desperdiçou sua cobrança. As reações de meu avô e meu tio me deixaram com a pulga atrás da orelha: "Que isso!? O Seedorf perdeu o pênalti!? Como assim!?". Na hora, confesso que não havia entendido. Fiquei pensando o que você tinha de tão especial para causar tanto espanto por causa de um único erro.

Até que o tempo foi passando, fui reparando em suas atuações, vi o VT de Real Madrid x Vasco em 98 e então, entendi.

Entendi o porquê de um erro seu ser algo tão relevante. É raro, bem raro. Entendi porque você era camisa 10 de um clube tão tradicional como o Milan. Entendi porque você é craque.

Passei a admirar aquele Milan, ainda mais quando você formou aquele trio fabuloso com Pirlo e Kaká no meio-campo.

Entendi também, na época, que lhe ver em nosso futebol brasileiro era uma utopia.

Era também um tempo em que eu não entendia nada do que acontecia com o Botafogo. Por que um time tão grande quanto os irmãos cariocas tinham em si tamanho complexo de inferioridade? Por que essa falta de confiança? Por que tanto clima de "já perdeu"?

Essa irritante mentalidade perdedora começou a sumir quando Loco Abreu chegou e iniciou este processo de revolução na auto-estima alvinegra. Aí você veio e sacramentou a mudança.

Hoje o Botafogo é um Botafogo diferente, que quer e mostrar que quer, sem medo, sem se esconder em qualquer pensamento pessimista. Muito disso é por sua causa, Seedorf.

Um clube que teve Garrincha e Nilton Santos nasceu para ter ídolos. Portanto, você nasceu para jogar ali.

Você tornou real um sonho praticamente impossível. Você veio para o Brasil que tanto ama e marcou seu nome na história do Glorioso, que agora te ama.

Você devolveu a ganância pela vitória e tirou do Fogão a cara de coitadinho.

Você chegou e levou o Botafogo de volta pra onde ele não ia há 17 anos.

Você deu a oportunidade pra muitos dessa sua legião de fãs brasileiros dizerem: "Eu vi o Seedorf jogar. E de perto, no Maraca!".

Você foi um gênio da bola, ídolo por onde passou e acaba de entrar para a história do futebol mundial.

E se houve qualquer problema que lhe impediu de jogar pela Holanda por mais tempo, azar da Holanda.

Obrigado, Sidão!

Pela história escrita, pelo enredo fantástico, pelo final feliz.

@_LeoLealC