09 dezembro 2013

Ela não entrou


Vasco e Corinthians empatavam em 0 x 0. Aí Alessandro tentou lançar uma bola e foi interceptado por Diego Souza, que então tinha 50 metros para correr até o gol e deixar o Cruzmaltino a 4 jogos do topo do América.

Restariam 4 times, e dentre eles, o Vasco era quem tinha mais cara de campeão. Era pra esclarecer que 2011 não havia sido acaso e que o time que 3 anos atrás estava na Série B se reergueu de verdade.

Otávio, vascaíno ferrenho, nervoso como estava, não aguentou o tranco e desmaiou ao se deparar com a chance aos pés de seu time, ficando inconsciente por bastante tempo.

Seu corpo desligava, mas sua mente ainda procurava o Pacaembu, sem querer se desconectar de forma alguma da partida. Assim, o rapaz teve um sonho lindo.

Otávio sonhou que Diego Souza carregava a bola até a área, driblava Cássio e deixava o Vasco a um passo da vaga.

O Corinthians, precisando então de 2 gols, pressionava, encurralava, mas não conseguia reverter. O Gigante da Colina, então, chegava às semifinais para enfrentar o Santos.

E depois de um 2 x 0 convincente em São Januário, o Cruzmaltino segurava o 1 x 1 na Vila Belmiro, chegava à final e ficava a 2 jogos da conquista.

Vinha então o Boca Juniors. Com um gol de Riquelme, aos 46 do segundo tempo, os argentinos venciam o primeiro jogo por 1 x 0, na Bombonera. A decisão ficaria para São Januário.

Depois de um jogo amarrado, o Boca tinha um pênalti aos 38 da 2ª etapa para sacramentar a conquista e levar o caneco. Mas Fernando Prass, aquele que não pega pênalti, defendia o chute de Riquelme e alimentava o pouco de esperança que ainda restava.

45 minutos, falta. Juninho, no sacrifício, vindo de uma torção no tornozelo, havia entrado no segundo tempo no lugar de Felipe, que como de praxe, havia reclamado com Cristóvão e ido direto para o vestiário.

Juninho então pegava a bola, mandava no ângulo, explodia São Januário e levava para os pênaltis.

Chegava a hora do goleiro "que não pega pênaltis" decidir. E ele defendia mais dois, dando o título pro Vasco da Gama. São Januário, em chamas benignas, gritava sem querer saber de documento algum da Conmebol: "Tricampeão!".

A América estava aos pés da Colina. O Vasco era o dono do futebol sul-americano. Chorando, milhares de apaixonados pensavam estar "vivendo um sonho".

Otávio estava no Caldeirão. No auge da felicidade, resolvia descer para pisar naquele gramado e depois andar por lá de joelhos.

Mas na hora de subir o alambrado, tropeçou e caiu. No susto, acordou.

Então ele viu o placar "COR 0 X 0 VAS" e se tocou que estava sonhando e que Diego Souza não havia feito o gol.

- Mas como assim? Ele estava ali, na frente do gol. 

Para a tristeza de Otávio, o gol não havia saído. E num escanteio aos 42 do segundo tempo, Paulinho faz de cabeça e o menino começa a viver um pesadelo real.

2012 foi passando e o Vasco entrando numa crise que teria seu estopim agora. Em todo momento em que ela se agravava, Otávio pensava: "E se aquela bola entrasse?".

O Vasco foi despencando, vendendo suas melhores peças e dando cada vez menos esperanças de chegar a algo grandioso agora, em 2013. Mas "e se aquela bola entrasse"?

Chegou o dia 08 de dezembro. Otávio e milhões de vascaínos acordaram sabendo que era o dia de evitar a segunda decepção máxima em 5 anos. Coisa que talvez nem seria pensada, "se aquela bola entrasse".

A bola rolou e com 4 minutos veio o primeiro golpe. Otávio, buscando se conformar com o inevitável, lembrou do momento de seu desmaio e novamente lamentou: "E se aquela bola entrasse?".

Numa humilhação à instituição Vasco da Gama, tanto dentro quanto fora de campo, não se pôde evitar o vexame.

Otávio, que havia desmaiado nas nuvens, acordou e viu seu time, aos poucos, chegar novamente ao inferno.

Até 2008, "time grande não cai". A partir dali, "voltamos pra ficar".

Não ficaram.

O Vasco, de novo, está na Série B.

"E se aquela bola entrasse?"

Se.

Ela não entrou.

@_LeoLealC

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